Descrição do trabalho acadêmico indígena, um poema

Recânone UFRN
3 min readOct 27, 2020

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Por Cash Ahenakew*

Web Art de Ana Gretel Echazú B. a partir de desenho de Patricia Guiscafré (Salta, Argentina).

Poema Originalmente publicado em Ahenakew, C. (2016). Grafting Indigenous ways of knowing onto non-Indigenous ways of being: The (underestimated) challenges of a decolonial imagination. International Review of Qualitative Research, 9(3), 323–340. Disponível em: https://blogs.ubc.ca/edst/2020/06/08/academic-indian-job-description-a-poem/. Tradução: Juliana Mytzi (mytzij@ufrn.edu.br). Revisão: Ana Gretel Echazú B. (gretigre@gmail.com). Projetos RECânone e Cuidados, UFRN. Autorizado e revisado pelo autor.

tem que saber

do conhecimento e educação ocidentais

mais a crítica do conhecimento e educação ocidentais

tem que saber

da ‘cultura’ e educação indígenas

mais a crítica e a crítica da crítica da

‘cultura’ e educação indígenas

tem que saber

como incorporar a autenticidade esperada

e como incorporar a crítica esperada

da autenticidade esperada

tem que saber

quando e onde usar literatura indígena

e quando e onde usar o cânone ocidental

para construir legitimidade e credibilidade para o pensamento e experiência indígenas

tem que saber

quando difamar, romantizar, essencializar

quando desculpar, complexificar, comprometer

quando e a quem prestar contas e por quê

tem que saber

como rejeitar a modernidade, como ser um indígena moderno

como ignorar contradições

como negar incomensurabilidades

tem que saber

quando e como desempenhar ao mesmo tempo

competência, confiança, ousadia, rebeldia heróica

e humildade, complacência e gratidão pela oportunidade

tem que saber

quando ser um/a intelectual, um/a ativista, um/a terapeuta, e um/a empreendedor

como reter alunos e melhorar sua performance e mobilidade social

e como parar a exploração e o desastre ecológicos

tem que saber

como educar ‘suas pessoas’, aliados liberais, imigrantes,

colegas

como se relacionar com membros de gangues, patrocinadores de negócios, idosos, políticos

como falar com os corvos, as árvores, o mar e a imprensa

tem que saber

como encarar e ajudar outros a curarem trauma intergeracional em dúvidas de si, automutilação, auto-ódio

e profecias derrotistas de auto-sabotagem

tem que saber

como ler e espelhar sensibilidades e sentidos da classe média

na escrita, fala, vestimenta, arte, gosto,

assim como gestão de resíduos e etiqueta à mesa

tem que saber

como empurrar, mostrar o dedo do meio, fazer a dança fantasma

como honrar os mais velhos, limpar privadas, carregar o peso

como realizar cerimônias, carregar um cachimbo, e curar os doentes

tem que saber

como soletrar, pronunciar, solucionar e consertar

colonialismo, capitalismo, racismo, escravidão, patriarcado

hetero-cis-normatividade, capacitismo, elitismo e violência interseccional

tem que saber

línguas perdidas e achadas de família, comunidades, terra, espírito

línguas impostas de nação, propriedade, individualismo, competição

e linguagem acadêmica institucional do humanismo liberal secular

tem que saber

como indigenizar e decolonizar

disciplinas, protocolos, éticas e metodologias

como fazer aspirantes a especialistas em problemáticas indígenas se sentirem e parecerem bondosos

tem que saber

como empacotar tudo isso em uma língua inglesa estrangeira

como convencer as melhores revistas e analistas de performance

que você também, contra todas as probabilidades, tem valor de mercado

tem que saber

como viver com a culpa de ter credenciais, um trabalho seguro

e a consciência da conformidade com um sistema viciado

construído sobre as costas quebradas e alma ferida de seus familiares

tem que saber

como avançar o projeto de reconciliação

com parentes que prejudicaram sete gerações

com miséria, expropriação e genocídio “cultural”

Faça agora mesmo sua inscrição online.

*Cash Ahenakew (PhD) é indígena da nação Ahtahkakoop Cree e professor no Departamento de Estudos da Educação na Universidade de British Columbia, Canadá. Mais informação: https://edst.educ.ubc.ca/facultystaff/cash-ahenakew/

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We belong to a Community Project from the Federal University of Rio Grande do Norte, Brazil. We translate materials linked to human rights & anthropology.

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